#DesafioDas100 Vácuo

#DesafioDas100  Vácuo

• "Silêncio.
  Taciturno.
  Calado.
  Quieto.
  Mudo.
  A quietude
  assola ao que
  o assoalho soa
  sob os pés
  descalços.
  O velho tapete
  manchado com o
  carmim da taça
  do porto, ainda
  recorda do último
  suspiro verdadeiramente
  apaixonado
  que aquelas paredes
  visualizaram.
  Ah, amar-te fora
  o maior erro;
  irreversível como
  a neve que cai,
  incurável como
  rasgo no peito;
  irremediável como
  o pôr-do-sol sob
  o céu de outono.
  O maior, mas também,
  o mais bonito.
  Outubro nunca mais
  seria o mesmo, nem
  as rosas amarelas,
  nem o cobertor de lã,
  nem o expresso duplo
  sem açúcar,
  nem a o mix perfeito
  de anis e tangerina,
  nem a polo azul clara,
  nem as manhã de sábado,
  nem o céu do amanhecer...
  Porque nada seria
  igual sem aquela
  pele, pintada feito
  firmamento estrelado,
  que acolhia meu eu miúdo,
  no aconchego mais certo,
  como promessa singela
  de eternidade verdadeira....
  Mas ah, quisera
  o destino que findasse
  a aurora antes que
  o último selar fosse
  presente, deixando-me
  para trás, sozinha e
  partida, porque meu
  precioso e adorável
  amor partiu, para longe,
  e não me disse o
  adeus que merecíamos...
  E o bolo de chocolate
  ficou amargo, e o chá
  de alecrim esfriou, e
  a colcha de microfibra
  pinicou, e o shampoo de
  camomila irritou, e o
  amaciante de peônia
  deu alergia, e nada mais
  fez sentido.
  Porque tudo caiu num silêncio
  dúbio demais,
  porque quando o pranto
  exigia espaço, roubava
  o oxigênio e quando o
  ar batalhava por dominância,
  a voz entrava no pário...
  E tudo era caos e dor.
  E saudade.
  E vazio.
  E silêncio.
  E o nada.
  Sempre odiei despedidas,
  mas me achava madura
  suficiente para lidar
  com desfechos,
  mas não, oh não,
  eu falho,
  quando o assunto é
  dizer adeus à parte
  mais terna, doce, a
  mais resplandecente
  do meu pequeno
  coração...
  Você."

Y.
20:24h.
30/07/2019.