#DesafioDas100 Correnteza

#DesafioDas100  Correnteza



  • "Sair daquele quarto, no amanhecer seguinte,
    igualou-se a sensação do desabrochar da
    primeira rosa na primavera, ou ao menos,
    essa assim que eu julgava.
    Bastou-me algumas horas de silêncio para
    finalmente me dar conta de que minha alma
    quieta e calada não me representa.
    Eu sou barulhenta, seja na falação, cantoria ou murmúrios;
    máscaras de pensamentos incógnitos e
    feições carrancudas e sérias depõem contra
    a veracidade de minha alma.
    Justamente eu, que sempre presei pela honestidade,
    estava mentindo vigorosamente para a única pessoa
    que realmente importa: eu mesma.
    Eu não estou bem. Meu coração está partido.
    Eu estou com receio do que pode acontecer.
    Tenho medo de que meu mundo perfeito desmorone, sem conserto.

    Essa é a verdade e não pretendo mais camuflá-la.
    Deixá-la a mostra é a melhor maneira de
    saber lutar com ela, se for preciso.
    Por isso, quando decidi deixar a clausura 
    daquele recinto deixar para trás também
    Todas as máscaras... Se eu não quiser sorrir, não sorrirei,
    se eu não quiser falar, não falarei. E principalmente,
    se eu não quiser discutir, não cairei em armadilhas.
    Peguei meu chapéu, minha bolsa de praia e,
    já devidamente vestida para um banho de mar,
    saí do quarto.
    No corredor, encarei brevemente a porta do
    quarto dele, mas segui em frente.
    O desjejum foi rápido, eu estava afoita
    por mais da liberdade provada na noite
    anterior. Quando, finalmente debaixo do sol,
    sorri minimamente para o horizonte.
    Formidável como mesmo com o mundo desabando
    em mim, o céu, o sol e o sal permaneciam os mesmos.
    Ao menos a areia sob meus pés era real, sólida.
    Não sei quanto tempo fiquei do lado de fora,
    só sei que não queria regressar ao fechamento
    de meu casulo. Por isso, evitei-o até depois do
    pôr-do-sol, alimentando-me através de fotossíntese e
    do matreiro vento norte.
    Quando tudo escureceu, retornei à segurança
    da construção elegante, crendo que o dia terminaria pleno,
    mas como a vida em si é quase uma piada às vezes,
    o encontrei no meio do caminho.
    'Oi! Você sumiu...' falou surpreso, quase como se estivesse
    desapontado por ainda ver-me ali.
    'É.. não me senti bem.' falei apenas, caminhando até meu quarto,
    o tendo ao meu encalço.
    'Estava pensando em te chamar para jantar no restaurante
    tailandês, o que acha?' falou, quando parei e destranquei minha porta.
    'Ah, obrigada, mas não.' dei um meio sorriso, entrando no quarto
    e prestes a fechar a porta, mas ele falou antes.
    'Tem outros planos, por acaso?' havia certa acidez na pergunta, mas
    não deixei me afetar por tal.
    'Na verdade sim, vou ao restaurante chinês.' falei dando de ombros.
    'Ótimo, então nos encontramos daqui uma hora, certo?!' disse.
    'Não. Eu vou sozinha, desculpa.'
    'E... Porque?!' sua expressão era confusa e feia de se olhar.
    'Bem, é bom ficar sozinho de vez em quando e sendo assim, resolvi que preciso disso.'
    e logo ele retrucou dizendo 'E por isso não posso te fazer companhia?'
    e respondi 'Ao que parece, você tem precisado de espaço e
    eu não quero sufocá-lo.' falei, encerrando o assunto e fechando a porta.
    Tomei um banho, coloquei uma roupa bonita, andei
    até o restaurante chinês, fui alocada em uma ótima
    localidade. Desfrutei de um jantar lindo, delicioso e,
    acima de tudo, aproveitei da melhor companhia,
    aquela a qual tenho desprezado mas que, no final,
    será tudo o que me restará...
    A mim mesma."


Y.
23:58h.
24/07/2019. 


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