#DesafioDas100 Bátega
#DesafioDas100 Bátega
- "Quando deixei o salão quase lotado no café da manhã
e andei para longe, sem olhar para trás, tive a plena convicção
de que algo havia se quebrado entre nós. Não sei ao certo quando,
como ou principalmente porque, no entanto, estava claro,
era nítido que tratava-se de uma causa perdida.
Uma causa perdida...
Eu o sufocava. Eu o fazia mal. Ele não gostava mais de mim.
O eco de meus passos sob a trama da tapeçaria cobrindo
todo o longo passadiço era o único som além
de minha respiração descompassada.
O desenfreado ritmo cardíaco em meu peito
tornava tudo ainda mais doloroso e complicado.
Quase impossível fora encaixar a chaveta na fechadura
dourada; as mãos trêmulas estavam gélidas ao passo
que o restante do corpo parecia queimar desagradavelmente.
Ele não me amava mais... Me tornei um fardo em sua vida.
Um fardo, um peso, uma pedra em seu caminho. Jamais
concebi a ideia de que, algum dia,
ouviria-o ou melhor, o leria dizer algo assim... De certo,
sempre soube que cedo ou tarde, o que temos ou tínhamos
se findaria, de forma dolorosa e catastrófica mas... Não assim.
Algo forte e pulsante dentro de mim insistia em repetir que seria
eu a dar fim em tudo, antes que fosse engolida pela
escuridão de uma despedida.
Sempre odiei despedidas e não seria agora que passaria
a lidar bem com elas, não quando é ele a dizer adeus.
Ah sim, eu sempre soube. Sempre soube que o que tínhamos
não poderia ser eterno... E como seria? Era perfeito demais,
sublime demais, maravilhoso demais, incrível demais.
Ele simplesmente era... Demais para mim.
Quando, em toda a vida, pude ter algo meramente assim e
ver isso tudo durar mais que alguns poucos momentos?
A resposta é clara e ácida: nunca.
Eu nunca vivi algo assim por muito tempo, porque
de certo, não sou digna, aos olhos do cosmos, de
tamanha benevolência. Ou talvez, seja meu caminho
uma trilha solitária e altruísta demais para comportar
um outro alguém... Ainda sim, não imaginava que
pudesse doer tanto lê-lo dessa forma.
Abaixo de meu corpo quase convulsivo,
o leito abraçou-me, acolhedor.
Os travesseiros de fronhas de linho
colheram minhas lágrimas com suavidade,
permitindo que o pranto fosse tão alto quanto
era a dor ruindo minhas entranhas.
Não sei por quanto tempo chorei ou como todo
o calor da adrenalina se dissipou tão rapidamente,
mas o frio que assolou minhas arestas era avassalador
demais para competir com o mormaço que o dia bonito
presenteava aos seres vivos do lado de fora.
Eu não sabia o que fazer...
Ainda tínhamos mais uma semana inteira de férias,
mas o sonho virou pesadelo e não me via fingindo algo
que não estava sentindo, apenas sustentando uma máscara
para evitar que toda a tormenta atravessasse as comportas.
Eu queria paz e um lugar seguro mas... Para onde ir?!
Fazia muito tempo que não havia um refúgio unicamente
meu, no entanto, fazia-se nítida a necessidade de criá-lo,
o mais presto possível.
Saí da cama tempos depois, quase agradecendo o desleixo quanto
a vaidade, que seria um enorme problema se associado às
lágrimas que lavaram a fronha alva.
Precisava fazer algo, mesmo que não soubesse o que
algo significava exatamente.
Às malas, dei uma arrumação.
Não sabia para onde ir, mas ao que parece, iria a algum lugar.
Ordenei de forma apropriada ou quase isso; os pertences
espalhados foram recolhidos, bem como itens secundários.
Celular, carregando. Computador, na mala.
Roupas, as limpas dobradas, as sujas ensacadas em outro compartimento.
Presentes... Uh, isso seria complicado.
Acabei encontrando uma mala-sacola escondida em um dos
bolsos externos da mala de rodinhas. Comecei a guardá-los.
Um por um, os itens que seriam dados a pessoas especiais
foram cuidadosamente arranjados, mas perdi o foco e a força,
ao que os dedos tocaram o pequeno embrulho
em papel kraft. Eram bloqueadores de ruídos novos,
já que os dele quebraram na última viagem e desde
então, sempre o ouvia resmungando sobre o incômodo
que o barulho externo lhe causavam.
Era pra ser um presente de retorno à vida real,
mas parece que o despresente, quem ganhou fui eu.
As gotinhas salgadas marcaram o papel, mas não havia mais
com o que se importar, não fazia mais sentido... Fazia?!
Eu não sei.
Minutos depois, ou horas, tanto faz, terminei tudo.
Na cama, uma muda de roupas separada para
um banho rápido, ou longo, tanto faz.
Mas antes que eu desse qualquer passo até o banheiro,
uma parada diante da varanda com vista bonita.
Oh Deus! Quando foi que o sonho virou pesadelo?...
Batidas na porta quebraram o silêncio, mas não
mexi um músculo sequer.
'Ei, está ai?' a voz dele indagou e silêncio
fora sua resposta. 'Está tudo bem? Você saiu der repente...'.
Mais silêncio. Suspiro.
'Vamos, abra a porta, sei que está ai, sinto seu perfume próximo no ar.' disse
com tom de riso. Seria deboche? Não importava. Não atenderia-o.
Quando novamente, tudo se calou, dei graças aos céus, de certo,
ele havia desistido e pela primeira vez, fico feliz com isso.
Mas a felicidade nunca dura, não é mesmo...?!....
'Estava pensando... Que tal almoçarmos naquele
restaurante italiano que você gostou tanto? Ou talvez
no empório tailandês.... A comida de lá era ótima também.' e
novamente, mudez.
Agora, foi a vez dele suspirar... Mas porque? Eu não compreendia!
Não era espaço que ele queria? Silêncio e solidão? Era o que eu estava dando-o.
Orei aos céus, clamando que o levassem para longe dali, até me dar conta
de que o longe seria relativo e falho, visto que
ele está hospedado no quarto ao lado do meu.
Logo ele partiu, mas deixou para trás sua última tentativa.
'Tudo bem, não sei o que houve, mas vou te dar espaço.
Vou te esperar no saguão ao meio-dia. Nos vemos lá?' disse,
mas saiu em seguida.
Finalmente, voltei a respirar apropriadamente, ou perto disso.
Estava nítido que aquilo era um jogo e eu,
apenas uma peça que ele julgava
poder controlar e guiar como bem quisesse, mas,
graças a Deus, eu sou filha da minha mãe e fui criada
para ser independente, inteligente e livre. Logo, ele descobriria
um lado meu que não conhecia e acredite,
ele não ia gostar do que o aguardava.
Porque mais do que amá-lo, eu
era uma mulher inteira, ainda que meu coração
estivesse partido, eu era inteira.
Não precisava de ninguém para viver.
É isso.
Sou uma mulher adulta, independente e autossuficiente,
que trabalha diariamente no fortalecimento de seu
amor próprio e que não é e nunca será controlada
por homem nenhum.
Agora...
Explique isso para a dor incessante e incansável,
que parecia consumir meu interior e a cada segundo
que se passava...."
Y.
20:27h.
22/07/2019.
20:27h.
22/07/2019.
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